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Desenvolvimento da região continental pode impactar positivamente na mobilidade urbana de Florianópolis


Para o arquiteto e urbanista Maurício Feijó, projetar o uso do solo em paralelo ao planejamento da rede de transporte da Grande Florianópolis é prioridade para a redução dos desequilíbrios no trânsito

29/10/2014

O arquiteto e Urbanista Maurício Feijó é consultor da LOGIT e um dos coordenadores dos estudos propositivos de soluções para a Mobilidade Urbana da Grande Florianópolis.
O arquiteto e Urbanista Maurício Feijó é consultor da LOGIT e um dos coordenadores dos estudos propositivos de soluções para a Mobilidade Urbana da Grande Florianópolis.

A Região Metropolitana de Florianópolis é a que mais cresceu entre as grandes cidades do Sul e uma das três que mais se desenvolveu em todo o Brasil nos últimos tempos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 959 mil pessoas vivem na capital catarinense e nos municípios do entorno, um crescimento populacional que chega a 2,5% por ano. Como fornecer opções de deslocamento ágeis, seguras e eficientes para quase um milhão de pessoas é o desafio em estudo atualmente pela equipe técnica do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis – PLAMUS.

A concentração de empregos e negócios quase que exclusivamente na Ilha de Santa Catarina, somada à baixa integração entre os municípios continentais são desafios a serem superados em prol da mobilidade urbana. “Florianópolis cresceu tanto nos últimos tempos que o próprio crescimento pode atrapalhar o desenvolvimento da cidade”, relata Maurício Feijó, consultor da LOGIT, uma das empresas integrantes do consórcio responsável pelo desenvolvimento do PLAMUS.

Um exemplo disto são os 466 mil veículos motorizados que circulam atualmente em Florianópolis. Dezessete anos atrás, em 1997, existiam 157 mil veículos, revelando um crescimento anual de 6,88%. Ou seja, a cada ano a capital catarinense recebe mais carros nas ruas do que nascem pessoas. “Os automóveis não devem intimidar outras formas de transporte e deslocamento. Este protagonismo precisa ser reequilibrado através do redesenho das áreas destinadas a eles”, afirma Maurício Feijó.

Alguns indicadores levantados nas recentes pesquisas apontam as complexidades do cenário atual. Por exemplo, grande parte dos motoristas de veículos particulares da região metropolitana dirige-se à mesma área, já que 61% das viagens diárias para a Capital têm como destino o Centro da cidade. Além da atividade econômica concentrada em um ponto da cidade, o Centro é adicionalmente sobrecarregado pelo sistema de transporte coletivo, que utiliza o terminal de integração para atender aos usuários de rotas intermunicipais, com necessidade de realizar deslocamentos entre cidades do continente, através de baldeação. De acordo com Feijó, esta orientação para uma predominância de deslocamentos no eixo Leste-Oeste da Grande Florianópolis, com um movimento pendular que sobrecarrega o sistema viário, deve ser revista. É recomendável o fomento ao desenvolvimento do eixo Norte-Sul da região continental, de forma a promover uma melhor distribuição dos fluxos do transporte.

O padrão de urbanização dispersa, fruto de características ambientais próprias da região, é uma das complexidades a serem superadas. Maurício Feijó explica que será necessário planejar a ocupação urbana da região metropolitana, distribuindo-a geograficamente de forma equilibrada. “Assim como Florianópolis tem uma forte vocação voltada para o turismo e para agrupar setores da administração pública, o Continente tem um grande potencial como polo de crescimento econômico. E, como podemos fomentar esse crescimento melhor distribuído? Acreditamos que fornecendo condições de transporte e deslocamento adequadas onde hoje não existem essas opções”, explica Feijó.

Este é um conceito de desenvolvimento urbano em prática no momento em vários países no mundo e tecnicamente conhecido como “Desenvolvimento Orientado pelo Transporte Público”. Em inglês, é conhecido pela sigla TOD - Transit Oriented Development. O princípio que norteia este modelo considera uma oferta de transporte atraente para o usuário como ferramenta para direcionar o desenvolvimento de determinada região. De acordo com Feijó, é possível moldar o crescimento urbano da Grande Florianópolis a partir da implementação de uma Rede Estrutural de Transporte Coletivo de Média Capacidade, ou seja, uma rede de transporte coletivo de alto desempenho planejada para o atendimento com qualidade da demanda existente e que permita a preservação dessa qualidade no longo prazo com incrementos de capacidade de acordo com a evolução da demanda. A definição dos modos de transporte que comporão esta rede é estabelecida com base em uma equação que envolve variáveis como o volume de passageiros a serem transportados por hora, o custo de implantação e operação, impacto na paisagem, entre outros.

Conforme ilustram os gráficos preparados pela equipe técnica do PLAMUS, mesmo em um horizonte de 25 anos, em 2040, a demanda otimista (considerando que 20% dos usuários dos automóveis migrassem para o
Conforme ilustram os gráficos preparados pela equipe técnica do PLAMUS, mesmo em um horizonte de 25 anos, em 2040, a demanda otimista (considerando que 20% dos usuários dos automóveis migrassem para o transporte público) seria de cerca de 16.000 passageiros/hora. Dessa forma, um sistema de alta capacidade, como um metrô, ainda seria inviável economicamente.

“Nossa pesquisa mostra que o pico da demanda de transporte em Florianópolis é de 10 mil passageiros por hora/sentido nas pontes Colombo Sales e Pedro Ivo, em alguns momentos do dia. Não é uma demanda adequada para um sistema de alta capacidade como o metrô, que requer 60 mil passageiros por hora/sentido para ser viável, mas seria compatível com outros sistemas como o Bus Rapid System (BRT) ou com o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), por exemplo”, explica Feijó. “Esses tipos de transporte, tanto o corredor exclusivo para ônibus quanto o sobre trilhos, podem nos ajudar a conectar os municípios vizinhos e expandir o mercado de trabalho para além da Ilha”, complementa.

O especialista destaca também a atenção aos modos não motorizados como complementares às estratégias de promoção do desenvolvimento de novos polos. Além de uma rede de transportes eficaz, o sistema deve incluir calçadas adequadas, ciclovias seguras, cruzamentos bem desenhados e ruas agradáveis. A estratégia atrairá, naturalmente, novos moradores e os diferentes setores da economia, gerando também empregos locais. “Com as pessoas morando e trabalhando em áreas próximas, o caminho para a redução do número de veículos está aberto”, acrescenta Feijó.

Apontar os modos de transporte ideais para conectar os municípios da Grande Florianópolis, apoiando assim o desenvolvimento entre eles, e buscar soluções para problemas locais que têm efeito em escala metropolitana são temas em estudo nesse momento. As definições que resultarão dos estudos realizados pela equipe técnica do PLAMUS serão estabelecidas com base num vasto levantamento, que inclui dados coletados em pesquisas de campo, Pesquisas de Origem e Destino Domiciliares, mapeamentos de diferentes perfis estatísticos oficiais e as informações obtidas junto à sociedade civil, às prefeituras e à população em geral. Tudo isso está sendo compilado para embasar a tomada de decisão quanto às melhores soluções para a mobilidade da Região Metropolitana.


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