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PLAMUS apresenta conclusões das pesquisas sobre a mobilidade urbana de Florianópolis


Soluções para o trânsito da região metropolitana serão baseadas nos dados divulgados em evento realizado na sexta na UFSC

02/12/2014

Claudia Martinelli, da LOGIT, exibiu os dados obtidos nas pesquisas
Claudia Martinelli, da LOGIT, exibiu os dados obtidos nas pesquisas (Foto: Fransuê Ribeiro).

Na última sexta-feira, 28 de novembro, a equipe do PLAMUS promoveu um seminário que marcou oficialmente o encerramento das pesquisas de campo e a fase de diagnóstico do projeto. Os resultados da pesquisa realizada ao longo de 2014 pelo Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis – PLAMUS foram apresentados no auditório do Espaço Físico Integrado (EFI) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), contando com a presença de autoridades, representantes das prefeituras dos municípios abrangidos pelo estudo, técnicos da área, acadêmicos e lideranças comunitárias. O estudo analisou, entre outros quesitos, as características da urbanização, as projeções de crescimento e as viagens realizadas diariamente nos 13 municípios da área de abrangência do plano. São pesquisas que subsidiaram o diagnóstico da mobilidade na cidade e que serão a base para as propostas que o corpo técnico do PLAMUS oferecerá para solucionar as questões de deslocamento e transporte na Grande Florianópolis.

O coordenador técnico do PLAMUS pela SC Parcerias, Guilherme Medeiros, abriu o evento: “Estamos aqui para apresentar oficialmente o resultado das pesquisas. As prefeituras já têm nos solicitado alguns destes dados e eles já vêm sendo utilizados preliminarmente nos municípios da Grande Florianópolis. Nossa intenção com esse estudo é humanizar as cidades, torná-las mais seguras e que sejam mais eficientes”. Segundo Medeiros, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) espera que o PLAMUS seja uma referência em termos de planos de mobilidade para todo o Brasil.

Secretário de Planejamento de Santa Catarina, Murilo Flores acompanhou atentamente as apresentações
Secretário de Planejamento de Santa Catarina, Murilo Flores acompanhou atentamente as apresentações (Foto: Fransuê Ribeiro).

Os procedimentos técnicos de cada uma das pesquisas realizadas, como a de Origem Destino, Contagem de Tráfego e a pesquisa domiciliar, foram detalhadas por Claudia Martinelli, da LOGIT, uma das empresas que integram o consórcio responsável pelo estudo. Ela exibiu alguns dos dados que foram destrinchados: o alto índice de participação do automóvel nos deslocamentos diários, a saturação de vias importantes como as pontes Colombo Salles e Pedro Ivo, a Via Expressa e a BR-101, a insatisfação dos pedestres com o estado das calçadas, entre muitas outras informações. Martinelli detalhou ainda o resultado das Pesquisas Origem Destino, que mostram a quantidade de viagens que os moradores fazem diariamente, por quais os motivos, com que meios de transporte e em quais horários, o que é crucial para entender os padrões de deslocamento nas cidades. Mais de 5.400 domicílios foram visitados para que estas informações fossem obtidas.

João Castelo Deschamps, prefeito de Biguaçu, participou do evento e elogiou o estudo do PLAMUS
João Castelo Deschamps, prefeito de Biguaçu, participou do evento e elogiou o estudo do PLAMUS (Foto: Fransuê Ribeiro).

O diagnóstico da equipe técnica do PLAMUS mostra que o eixo de desenvolvimento Leste-Oeste, focado no Centro da Ilha de Santa Catarina, está saturado. Segundo os especialistas do estudo, é preciso fomentar o desenvolvimento da região continental de uma forma bem definida: orientado pelo transporte público eficiente e de qualidade. Construir uma quarta ponte conectando a Ilha ao continente pode ou não, segundo o corpo técnico, ajudar a mobilidade da região, mas certamente não solucionará as questões de engarrafamento em longo prazo. É para debater os dados consolidados e as propostas de soluções que o PLAMUS promoverá nesta quarta e quinta feira (3 e 4/12), e na próxima quarta feira (10/12), oficinas com a participação das prefeituras e da sociedade civil. A partir destes debates e dos anseios da população serão extraídas as propostas que o estudo proverá para a mobilidade urbana da Região Metropolitana de Florianópolis.

Dados divulgados pelo PLAMUS ajudam a entender a mobilidade em Florianópolis

A pesquisa mostra que 172.200 veículos e 25.500 motocicletas cruzam as pontes todos os dias e que 75% dos veículos que ocupam a ponte Colombo Salles no horário de pico são carros. Eles ocupam 90% da capacidade da ponte e transportam cerca de 11 mil pessoas, enquanto os ônibus representam apenas 3% dos veículos e ocupam 1% da capacidade da via para transportar aproximadamente o mesmo número de pessoas: 10 mil passageiros. Caso fossem priorizados, os ônibus que hoje atravessam a ponte no horário de pico poderiam levar até 18 mil pessoas — o que significaria 6,2 mil carros a menos neste tráfego.

Outros dados relevantes da pesquisa:

- 60% das viagens a trabalho são realizadas de automóvel;
- O tempo das viagens por transporte público é o dobro das feitas por automóvel;
- 60% dos veranistas utilizam carro para ir às praias;
- 86% das paradas de ônibus ficam mais de 260m distantes da parada mais próxima;
- A velocidade média dos ônibus em horários de pico não passa de 8 km/h;
- 48% do total de viagens são realizadas por automóvel.

Michael King

O arquiteto, urbanista e especialista em mobilidade norte-americano Michael King participou do evento a convite do PLAMUS com uma palestra sobre TOD (“Transit-Oriented Development”- em português: Desenvolvimento Orientado pelo Transporte Público), adotando a abordagem apresentada por meio da publicação “The TOD Standard”, lançada pelo ITDP (Institute for Development and Transportation Policy), detalhando oito princípios para uma mobilidade mais sustentável: andar, pedalar, conectar, usar, transporte público, misturar, adensar, compactar e mudar. King exibiu alguns exemplos de desenho urbano utilizados ao redor do mundo que contemplam estes princípios e demonstrou como as cidades tornam-se mais humanas, agradáveis, práticas e seguras a partir deles.

Michael King utilizou a experiência adquirida em diversos países para falar sobre a mobilidade em Florianópolis
Michael King utilizou a experiência adquirida em diversos países para falar sobre a mobilidade em Florianópolis (Foto: Fransuê Ribeiro).

“O que muitos não entendem é que quanto mais estacionamentos são oferecidos, mais carros circularão nas ruas. Se há oferta de estacionamentos gratuitos nas ruas, nas lojas, nas praias, as pessoas irão dirigindo para estes locais. É preciso cobrar por essas vagas para diminuir a densidade de carros nas ruas da cidade”, explicou o norte-americano. Ele exibiu exemplos de ruas completas, com espaços adequados para pedestres e ciclistas, onde as vagas para carros foram extintas, ou limitadas às exigências de acessibilidade, e a qualidade de vida no local foi aprimorada.

“Ouvimos ao longo de nossas vidas que as ruas são para os carros. Quando um motorista dirige em alta velocidade e atropela alguém, quem morre é o pedestre. Mas a imprudência foi do motorista, que causou o acidente e que, ao contrário do pedestre, sairá ileso. Quanto mais rápido está o carro, mais chances de alguém morrer, e isto nós podemos evitar”, declarou King. Ele exibiu diversas imagens de Florianópolis para falar sobre os pontos positivos e negativos do trânsito da cidade. Segundo King, a melhora dos espaços para os pedestres é simples e requer obras de baixo custo.

“Por que continuamos a projetar ruas que permitem que carros matem crianças? A solução são ruas em que os carros trafeguem devagar, as pessoas caminhem melhor e as conexões sejam mais práticas”. Ele falou sobre as experiências que realizou no trânsito de Florianópolis, em julho e agosto deste ano, em oficinas organizadas pelo PLAMUS e com o apoio do IPUF: “Quando fizemos intervenções nas ruas de Florianópolis, muitos motoristas gritaram conosco, mas todos os pedestres ficaram satisfeitos. A mudança gera resistência, mas é assim que tem que ser”.

King concluiu sua apresentação defendendo a importância de um desenho urbano conectado com ações preventivas contra as mortes no trânsito: “Quando você desenha uma rua, tem que presumir que motoristas farão coisas estúpidas. Eles não verão obstáculos, dirigirão muito rápido e baterão nas pessoas. Sendo assim, é melhor que batam em um objeto, uma espécie de “ilha”, que posicionamos no centro da rua, entre uma faixa viária e outra, para humanizar o trânsito. Isto permite ao pedestre atravessar em etapas e se protegem do fluxo de veículos. Então o automóvel com um motorista distraído poderá atingir esta “ilha”, o que é melhor do que atingir uma criança que está atravessando na faixa de pedestres”.


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