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Pedestre é prioridade em 1º dia de Oficina de Desenho de Espaços Públicos do PLAMUS


24/07/2014

Foto: Fransuê Ribeiro
Participantes atentos. (Foto: Fransuê Ribeiro)

Oferecer mais segurança e comodidade a pedestres e ciclistas foi o ponto de destaque do primeiro dia de Oficinas de Desenho de Espaços Públicos do PLAMUS - Plano de Mobilidade Sustentável da Grande Florianópolis. O encontro reuniu participantes envolvidos com o projeto – entre técnicos, especialistas, professores e estudantes – no Espaço Floripa Interativa, nesta quinta-feira (24), na capital catarinense. A primeira rodada de oficina encerra nesta sexta-feira como parte de uma série de encontros organizados por ITDP (Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento) e Logit, integrante do consórcio responsável pelo projeto. Os próximos ocorrem dias 28 e 29/07; e 31/07 e 01/08.

Recepcionados por Guilherme Medeiros, coordenador do PLAMUS pela SCParcerias, e Maurício Feijó, consultor da Logit, os arquitetos Danielle Hoppe (ITDP) e Michael King (Nelson Nygaard) realizaram as apresentações da oficina inaugural. Os especialistas em desenho urbano apontaram referências e diretrizes técnicas sobre os conceitos de mobilidade sustentável e ruas completas, que garantem mais segurança e acesso a pedestres e meios não motorizados de transporte.

“É fundamental trazer a visão de pessoas com experiências internacionais relevantes em nível mundial (China, África, Europa e outros), pois assim vemos as boas práticas e que também devemos pensar no ‘micro’, nos detalhes. A própria Lei da Mobilidade Urbana coloca o transporte não motorizado no centro da questão, o que é ótimo”, ressalta Wagner Colombini, presidente da Logit. “O transporte não motorizado é andar a pé, andar de bicicleta; é a escala humana. Os exemplos do exterior estimulam nossa criatividade nesse sentido”, completa.

Foto: Fransuê Ribeiro
Medeiros, Colombini e Danielle. (Foto: Fransuê Ribeiro)

Planejar em escala humana

Danielle Hoppe apontou os 8 princípios básicos da mobilidade de acordo com o Instituto: andar a pé; usar a bicicleta; conectar; transporte público; uso misto; adensar; compactar; e mudar. “Não podemos esquecer que até 2030 a perspectiva é de que 90% da população brasileira viva em cidades”, lembra. Com os carros particulares será difícil se mover. “Temos que mudar a visão de que o ônibus é ruim. Mas, para isso, os sistemas precisam oferecer qualidade aos usuários”, destaca.

A especialista comentou sobre a importância de planejar as cidades em escala humana, de acordo com a perspectiva das pessoas. São elas que caminham, acessam serviços, transporte público e dependem de conexão entre diferentes modais para ter mais mobilidade. “Os números de demanda variam de acordo com a velocidade e a conveniência dos modos de transportes”, encerrou Danielle, parafraseando a vanguardista no tema Jane Jacobs.

Movendo barreiras para as pessoas

A lógica “carrocêntrica” de nossas cidades já se mostrou ineficiente. As soluções, contudo, podem estar mais próximas do que imaginamos. “Em sua origem, a rua não era apenas uma via de acesso a um local e, sim, o próprio local. Um espaço para se estar, passar o tempo, interagir com outras pessoas. Essa lógica original das ruas como espaços públicos de convivência e bem-estar voltou à tona de 10 anos para cá”, explica Michael King, arquiteto norte-americano especialista em projetar ruas e redes viárias completas, resilientes e sustentáveis há 20 anos.

Em sua apresentação, King mostrou cenas marcantes resultantes da falta de planejamento das cidades para as pessoas, como calçadas inacabadas, ruas saturadas de veículos e números crescentes de acidentes e mortes no trânsito. “Como deixamos nossas cidades chegarem a esse ponto?”, questiona. De acordo com o especialista, a mudança está nos detalhes. Uma simples análise do comportamento do pedestre nas ruas pode traçar as “rotas de desejo” das pessoas, que nem sempre são aquelas impostas pela sinalização. “Se você constrói algo que as pessoas não respeitam, alguém está errado, possivelmente você”, alerta.

Com a análise de comportamento é possível propor soluções efetivas e criativas para a demanda mapeada. Uma pintura no chão da via com recuos, ilhas e espaço para os pedestres e faixas de segurança elevadas são ações que garantem mais segurança e conforto para as pessoas que transitam ou optam pela bicicleta. Uma rua completa, de acordo com o especialista, precisa agregar características que contemplem diferentes meios de deslocamento. “Por anos separou-se os conceitos de ‘movimento’ e ‘lugar’. Hoje sabemos que os dois estão intrinsicamente ligados”, lembra King. Para garantir essa dinâmica, de acordo com o especialista, existem algumas prioridades para as quais os planejadores urbanos devem atentar:

1. Resolva os problemas mais perigosos, como as colisões;

2. Melhore o que já está bom: demanda latente + atração de mais gente;

3. Trabalhe onde você está politicamente protegido, como escolas, hospitais, parques, comércio.

Foto: Fransuê Ribeiro
Michael King explicou dinâmica de mobilidade dos pedestres em diferentes cidades do mundo. (Foto: Fransuê Ribeiro) 


A moderação de tráfego (traffic calming) é uma das alternativas, fazendo com que a velocidade do veículo esteja alinhada ao contexto da via. Outra ação é investir em meios não motorizados como a bicicleta e a caminhada, o que já se comprovou ser uma opção que torna as ruas mais seguras. “Pesquisas mostram que em países como Dinamarca e Holanda, onde existem os maiores índices de ciclovias, o número de colisões é muito mais baixo em relação a outros”, pontua King.
O especialista lembrou ainda que outras pesquisas de tendências de mobilidade indicam uma mudança de comportamento do jovem em relação ao carro. Antes símbolo de liberdade e independência, o automóvel vem perdendo espaço nas listas de desejo dos Millennials (jovens entre 20-25 anos). Em longo prazo, esse comportamento, somado a ações efetivas de devolução do espaço público às pessoas, pode resultar em um futuro mais sustentável para todos. “Não estamos fazendo essas mudanças para nós, mas sim para nossas crianças. Elas ficarão e vou fazer de tudo para que vivam em lugares melhores e com mais qualidade de vida”, finaliza King. “Gostaria de agradecer ao PLAMUS, ITDP e Logit pela possibilidade de estar aqui hoje”.King destaca que a primeira atitude a tomar no replanejamento de vias é reduzir a velocidade dos veículos motorizados.  “Em uma via onde o carro trafega a uma velocidade de 60 km/h a chance de alguém morrer ao sofrer um atropelamento é de 80%”, explica o especialista que apontou variáveis como a reação do motorista, a qualidade do sistema de frenagem e as condições climáticas.

Foto: Fransuê Ribeiro
Grupos trabalharam durante a tarde. (Foto: Fransuê Ribeiro)

Visita de campo

Após as apresentações, os participantes tiraram dúvidas com os especialistas e foram divididos em grupos para a análise de campo nas ruas Esteves Júnior e Álvaro de Carvalho, no centro de Florianópolis. O objetivo foi pensar em características para a execução de uma via compartilhada e mais agradável às pessoas. A rota é um caminho histórico entre as baías Sul e Norte, com 1,2 km de extensão, que conecta o TICEN - Terminal de Integração do Centro à Avenida Beiramar Norte.

Os trabalhos continuam nesta sexta-feira, quando os grupos analisam desafios encontrados e propõem mudanças em escala humana efetivas para a área.

Próximas oficinas

Nas próximas Oficinas de Desenho de Espaços Públicos do PLAMUS os grupos participantes analisam pontos estratégicos para a mobilidade da Grande Florianópolis: a Praça São Luiz Orione, em São José, dias 28 e 29/07; e o cruzamento da Av. Getúlio Vargas com a BR-101, em Biguaçu, dias 31/07 e 01/08. O objetivo será propor reformulações ao atual desenho urbano destes locais.

“Escolhemos esses lugares pois agregam diferentes características, como vias compartilhadas, projetos de espaços públicos para mobilidade, e reconversão e urbanização junto a vias expressas, especialmente em intersecções com a BR-101”, explica Mauricio Feijó, da Logit. A metodologia das oficinas, baseada em uma participação ativa e colaborativa entre os diferentes atores envolvidos no projeto, facilita a troca de informações, experiências e soluções.

“Estamos abertos e queremos que todos participem do PLAMUS pois queremos que o projeto seja algo transformador para as cidades e as vidas das pessoas”, ressalta Guilherme Medeiros.

Foto: Fransuê Ribeiro
Participantes reunidos. (Foto: Fransuê Ribeiro)
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Esq. para dir.: Helio Costa, Wagner Colombini, Mauricio Feijó, Danielle Hoppe, Michael King e Guilherme Medeiros. (Foto: Fransuê Ribeiro)

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